Por: Cristinne.AC

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Estou sentindo uma clareza tão grande
que me anula como pessoa atual e comum:
é uma lucidez vazia, como explicar?
assim como um cálculo matemático perfeito
do qual, no entanto, não se precise.

Estou por assim dizer
vendo claramente o vazio.
E nem entendo aquilo que entendo:
pois estou infinitamente maior que eu mesma,
e não me alcanço.
Além do que:
que faço dessa lucidez?
Sei também que esta minha lucidez
pode-se tornar o inferno humano
- já me aconteceu antes.

(Clarice Lispector)

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Monólogo

Você sente alguma coisa? Ahh, não sei!? Às vezes eu não sinto nada, como nesse exato momento. Há varias pessoas a minha volta, todas elas estão falando, falando e rindo. Mas ainda me sinto, quer dizer, não me sinto, pois neste momento não sinto nada. Você sabe como é estar no meio de uma sala, com um tanto de gente falando, e você, sua língua, sua mente estarem presos em nenhum sentimento? É estranho! Muito confuso! Isso às vezes me mete medo. Ouço segredos, que nem sei se são mais segredos, alguém canta. Não sinto mais ouço. Ouço as vozes, ouço o ar-condicionado, os pés arrastando. Ouço o barulho do lápis, as paginas do livro sendo viradas; as mãos coçando a cabeça. Tudo posso ouvir, mas nada posso sentir, além do frio que faz aqui, porém isso não faço apologia. Não sinto os sentimentos, eles não me sentem. Tenho jeitos macilentos sem nenhum atrativo. Aqueles não me sentem. Não me querem. E sinceramente até certo ponto eu não os quero! Arrepio.

(C.Camargo)

domingo, 19 de junho de 2011

Como uma carta fora do baralho, ou até mesmo uma carta perdida no meio de tantas;  aquela carta que não deveria estar onde esta, que também não queria estar. Nada faz sentido. Será que algum dia vai fazer? Será que é pra fazer? Sinceramente não sei. Aliás, não sei de nada, nem faço questão, ou será que dentro de mim eu faça?
Alguém entre tantas pessoas e totalmente deslocada. Porque fazer algo que não queria fazer? Porque estar aonde eu não queria? Porque muitas vezes ser quem eu não sou?  Já sei, porque me obrigam, e não tem como fugir, não tem como viver ao meu modo, da forma que eu quero, da minha forma simples.
Vida. Eu não preciso de tanto pra isso; mas fazem com que eu precise.
 Um sorriso, talvez seja o que de mais valor eu precise; é contagiante, é lindo, traz paz, equilíbrio. Eu preciso. Há quanto tempo isso não existe em mim. A falta que meu sorriso me faz, é imensa! A maior falta, a maior saudade, quem sabe o motivo da minha maior fraqueza. Como é raro ver um sorriso na face dos outros, talvez tantos e nenhum verdadeiro; saber que outras pessoas estão felizes me faz feliz. É um tanto quanto simples. É bom.
Nostalgia. Me faz  falta muita coisa que antes eu tinha e agora não tenho ; nada material, mas sim, momentos, conversas, sonhos, lembranças. Às vezes até as lembranças me abandonam, por quê? Que seres queiram me abandonar, talvez eu entenda, afinal, eu fujo desses.  As únicas coisas que não me abandonam, talvez, seja a angústia, a dor, a necessidade de estar só, de me afastar. Fuga, isolamento, é o que há de mais verdadeiro em mim. Não preciso fingir, não preciso fugir, eu já fiz isso.
Estar no meio de tantos, pra que? Não vejo nexo nisso. Talvez eu só precise de poucos. Misantropia. Isso não me faz mal. Ou pelo menos eu não percebo isso. Ser isso, querer isso, deveria ser simples e ponto. Mas não é, e já não sei por quê.

(A.C)

Quem ri por último, Rivotril

[...]Como é que fica o mundo quando destranco minha bolha? Sofrer é de uma arrogância egocêntrica sem limites. Tenho medo de dobrar a esquina de casa. Tenho medo de fazer aniversários. Tenho medo de ser mulher. Tenho medo que me magoem. Tenho medo de estarem rindo do quanto eu sou feliz quando alguém me abraça e eu me largo um pouco. Minha cabeça pesa quilos demais pro meu pescoço. Alguém por favor só me segura um pouquinho? Tenho medo de acordar. Tenho medo quando acaba a bateria do meu Iphone porque mexer nele me distrai de pensar como tudo é bem maluco. Estou quase dormindo, quase. Sinto uma tristeza profunda de ir. Ir é muito triste. E estou sempre indo apesar das minhas unhas desesperadas eternamente esfolando algum conforto que deixou saudades apesar de nunca ter existido. Mas o Rivotril vai comigo e daqui a pouco me traz de volta. [...]
Depois mil anos e todos nós mortos e os depois de nós mortos. Depois mais amores que me racham inteira e eu catando minhas bolinhas de gude pelos ralos de todas as cidades. Tenho medo de não ser mãe. Tenho medo de não ter fome. Tenho medo de não dormir. Ou tudo isso demais. Mais um Rivotril. O restinho dos ratos gritando somem. O restinho das pombas macabras somem. O restinho dos corvos somem. Todos para longe. Lá vai a mulher que assusta. Mas assusta principalmente eu mesma. Minha psiquiatra me disse que não sou fraca, sou humana, mas, poxa, às vezes é bem fraco ser humano. Preciso gostar dessa parte, preciso gostar dessa parte. Tirar meu salto alto enfincado no meu próprio peito. O céu está bem limpo enquanto eu durmo em algum lugar bem longe de mim.
 ( Tati Bernardi)

sexta-feira, 17 de junho de 2011


" Um coringa é um pequeno bobo da corte; uma figura diferente de todas as outras. Não é nem de paus, nem de ouros, nem de copas e nem de espadas. Não é oito, nem nove, nem rei e nem valete. É um caso à parte; uma carta sem relação com as outras. Ele está no mesmo monte das outras cartas, mas aquele não é o seu lugar. Por isso pode ser separado do monte sem que ninguém sinta falta dele.   Igual a mim, talvez."

"Eu tenho duas em mim. Uma é louca, gosta de ser livre, sonha com o mundo e planeja viagens malucas, explora a vida, pesquisa os sonhos. Ela se embriaga de gente e seduz a vida. Ela desenha novos caminhos e quer estar em todos os lugares ao mesmo tempo.
Essa não se  apega, não se apaixona, apenas se ama. Ela permite-se apenas viver o hoje, esqueceu do ontem e não pensa no amanhã.
Ela não tem casa, não tem cerca, não tem pai nem mãe, deixou a família com um até logo, e um beijo na testa e disse “um dia estaremos juntos”.
Essa chora, da risada, enlouquece, extrapola, não te limites. Mas ela não manda, nem na própria vida.
Quem manda é a outra, que controla, que ama, que planeja, que aguarda, que cuida.
A outra que deseja o lugar certo na hora exata. Que escolhe a cor da casa, que planeja o jantar e tem porta retrato espalhado pela casa.
A que manda anda pelo caminho certo, aquele feito com pedrinhas da musica que diz que no final da rua tem um bosque.
Essa chora as vezes, mas sente mais. Sorri sempre, leve semelhança com a outra.Ela ama demais e as vezes esquece de dizer, tem planos com o homem que escolheu e esquece de contar.
A diferença entre as duas é que uma pensa de menos e a outra pensa demais.
É a briga interna que me deixa maluca as vezes, a que quer correr o mundo fica estragando os planos da que quer apenas a segurança do amor que tem...
Elas se confundem e se estranham, mas a sensatez daquela que cuida e ama sempre vence.
Mas tem dias, tem dias que a outra entra em cena e eu fico a mercê do que ela deseja, morrendo de vontade de correr pro abraço e cair no mundo, mas daí eu lembro que dentro ainda tem um coração que não tem coragem e nem vontade de deixar  tanto para trás.
Daí a vontade passa e eu continuo olhando o mundo pela janela..."
" Quem é que não os tem .. Eu tenho medo - muitos.
Tenho medo de errar, de fracassar, de estragar tudo, de por tudo a perder. Tenho medo de decepcionar, e de me decepcionar. Ultimamente tenho medo de mim, do que eu ando sentindo, do que eu ando pensando...
Estou com medo de fazer a escolha errada, onde qualquer erro põe em risco tudo o que eu construí aqui. O problema é que tenho a sensação de que os meus sentimentos não estão me acompanhando. È como se minhas vontades fossem uma, e meus sentimentos fossem outro. O pior é que esses sentimentos podem ser só uma miragem, uma ilusão. E as minhas vontades podem ser só egoísmo, ou puro medo mesmo. Estou confusa .
E o mais difícil é que me sinto posta em teste o tempo todo; sou constantemente desafiada, analisada, questionada, invadida [...] É difícil até pra pensar, por as coisas no lugar. Tenho medo de me trair na minha própria escolha.
Nossos sentires são traidores; nos seduzem e sedam os nossos sentidos; bloqueiam todos os nossos mecanismos de defesa; nos deixam a beira do abismo, sem eira nem beira ..."

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Calma. É mais do que eu tenho me dito, pode ser que eu sempre precise disso, ou talvez, eu esteja cansada. Em mim, uma mistura dessa calma com uma euforia oculta. Em tempos, constante  busca por sonhos, por quereres, vontade de realizar os próprios desejos, o ser espontâneo; mas, logo vem a calma, a necessidade desnecessária mesmo que inútil de deixar o tempo decidir. Tempo, destino. Será que deixar simplesmente tudo isso passar vai resolver? Solucionaria os meus medos? Seria uma fuga para não decidir a própria vida. Uma vida vivida inconscientemente, ou quem sabe eu não esteja vivendo.

(A.C)

domingo, 5 de junho de 2011

Sufoco. Presa talvez em meu ser, em busca de algo que eu posso não saber. Há tanta coisa inexplicável ao meu redor, sentidos estranhos, sonhos ocultos escondidos de mim mesma. Algo inconstante ou constante, quem sou eu pra dizer? Um querer infinitamente infinito, ou finito, procurando algum sentido para tudo isso e um pouco mais. Busca pela decisão, mas qual seria essa? Ninguém além de mim poderia resolver; a necessidade de algo um tanto quanto indecifrável agora.
Acho que ninguém sabe o fim da história, a vida é um risco e eu tenho medo disso. Talvez, depois de dias e noites, alguma resposta eu encontre. Mas, será que isso faz sentido?

(A.C)

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Largo em sentir, em respirar sucinto,
Peno, e calo, tão fino, e tão atento,
Que fazendo disfarce do tormento,
Mostro que o não padeço, e sei que o sinto.

O mal, que fora encubro, ou que desminto,
Dentro no coração é que o sustento:
Com que, para penar é sentimento,
Para não se entender é labirinto.
(...)
Mas oh do meu segredo alto conceito!
Pois não me chegam a vir à boca os tiros
Dos combates que vão dentro no peito.
(Gregório de Matos)